Romero é coordenador geral do CIAED 2023
28° CIAED Congresso Internacional ABED de Educação a Distância
Educação Híbrida e Hibridização da Educação
Neste que será o primeiro CIAED a ser realizado após o encerramento do estado de emergência sanitária, decidimos resgatar o tema daquele CIAED que foi o último antes de a humanidade ter ingressado nesse inusitado período. Fazemos isso, não pela falta de novos possíveis temas, mas pelo aumento em importância, abrangência e diversidade que a hibridização ganhou na sociedade em geral – e na educação em particular – a partir da experiência coletiva vivenciada ao longo do extenso período de priorização do distanciamento físico. Parece que acumulamos trinta anos de experiência, e não apenas três. É como se os alunos que agora recebemos pertencessem a uma novíssima geração e a uma outra sociedade.
Tudo o que discutimos em 2019 sobre educação híbrida continua válido (ou quase tudo…), mas surgiram muitas novas demandas e possibilidades. O mundo do trabalho descobriu, e abraçou, os benefícios de mesclar, quando possível, o físico com o virtual. A sociedade em geral perdeu o preconceito com o teletrabalho, com a telessaúde e até com o telenamoro. As “lives” foram incorporadas em praticamente todos os segmentos e atividades sociais. Os metaversos ressurgiram com força, agora mais imersivos, poderosos e com potencial de se tornarem a nova forma de acesso à internet, potencializados pela chegada do 5G e disseminação da “internet das coisas”. Muitos alunos gostaram da experiência de ter o poder de pausar, avançar, pular, voltar, acelerar e/ou desacelerar seus professores durante as aulas. Por outro lado, todos passaram a valorizar ainda mais os momentos presenciais, mas desde que bem aproveitados. Deixou de fazer sentido para os aprendizes, confirmando o que os pedagogos já diziam há muito tempo, o deslocamento até um determinado espaço físico apenas para assistir a aulas expositivas. A aprendizagem ativa, a sala de aula invertida, entre outras estratégias de ensino-aprendizagem, em especial as híbridas, nunca foram tão necessárias. Igualmente, nunca houve momento tão propício para disseminá-las, implantá-las, avaliá-las e aprimorá-las.
Em 2019, quando “educação híbrida” foi tema do 25° CIAED, esse conceito era praticamente sinônimo de “blended learning”, ou seja, representava uma mescla planejada e sistematizada de atividades de aprendizagem desenvolvidas em espaços físicos e/ou virtuais, apoiados por objetos de aprendizagem analógicos e/ou digitais. Em geral, a experiência híbrida era planejada para o coletivo de aprendizes, em alguns casos com a possibilidade de uma certa personalização de conteúdos e mídias. Poucos meses depois, contudo, veio o período de aulas remotas emergenciais, seguido de um retorno gradual ao espaço físico, de forma intermitente e errática. Nesse contexto começou a ocorrer um fenômeno de hibridização, muito diferente da tradicional aplicação do chamado “blended learning”. Essa nova hibridização da educação não exclui o conceito tradicional, mas traz outros, além de maior flexibilidade, como a chamada educação simultânea, em que determinada atividade é desenvolvida simultaneamente em espaços físicos e virtuais, com parte dos alunos, e eventualmente até mesmo o professor, participando remotamente. Hoje, o próprio conceito de “presença” necessita de ressignificação, por não fazer mais sentido a atribuição de “presencial” exclusivamente a atividades realizadas sob o mesmo teto. Concomitantemente, surge no exterior o conceito de “hybrid learning”, termo mais abrangente que inclui misturas quaisquer de remoto e local, analógico e digital, presença física e presença virtual, estruturadas e planejadas e/ou flexíveis e ad hoc. Se traduzirmos o “hybrid” para “híbrido” haverá colisão com a tradução comumente adotada para “blended”. Mais um ponto para discussão durante o 28° CIAED.
A comunidade de “educação a distância” já está habituada ao híbrido. A EaD foi também pioneira em utilizar, efetiva e amplamente, tecnologias digitais na mediação pedagógica. Os Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVA) nasceram e se desenvolveram na EaD e hoje são amplamente usados em cursos convencionais realizados em espaços físicos, tendo sido de grande valia durante o “ensino remoto presencial”. Um conhecido chavão diz que “o que funciona na sala de aula física não funciona na EaD”, o que tem justificado o desenvolvimento de metodologias e ferramentas específicas para aprendizagem a distância. O que poucos percebiam, é que o mencionado chavão não é bidirecional, ou seja, “o que funciona na EaD pode, sim, funcionar em cursos planejados para ocorrer em espaços físicos”, como já demonstraram os AVA e as atividades emergenciais desenvolvidas ao longo do período de emergência sanitária. O conhecimento que será compartilhado no CIAED é, portanto, de interesse não apenas da comunidade EaD mas de toda a área de educação.
Estamos em um momento único, em que torna-se imprescindível essa troca de experiências e conhecimentos entre pesquisadores, educadores, gestores, profissionais, escolas e empresas. Um sistema que já era complexo fica ainda mais intrincado com as demandas e possibilidades de hibridização. Espaços e tempos de aprendizagem, físicos, virtuais ou híbridos, necessitam ser repensados, aprimorados e avaliados. Metodologias, ferramentas, conteúdos, experiências, propostas, estudos, teorias, inovações, desafios, propostas e visões precisam ser compartilhados e discutidos. Os princípios da Educação Aberta precisam ser revisitados em seu potencial de transformação das práticas educacionais em todos os níveis e modelos.
Muito se falou em “novo normal”. No 28° CIAED discutiremos e vislumbraremos o “novo futuro”: o futuro da educação e, consequentemente, da nossa sociedade.
Romero Tori
Presidente do Conselho Científico ABED
Coordenador do Comitê Técnico-Científico (CTC) CIAED
Professor Associado 3 da Escola Politécnica da USP
Saiba mais no site da ABED.