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Ensino de Biologia celular com o uso do “Kit RA nas escolas”  

Sobre o kit RA nas escolas

O Portal de Educação Imersiva apresenta nesta resenha o Kit RA nas escolas! O produto foi criado com o intuito de facilitar o ensino de ciências com o uso de Realidade Aumentada. Desenvolvido por pesquisadores do Laboratório de Tecnologias Computacionais da Universidade Federal de Santa Catarina – Labtec, visa tornar mais atrativo e interativo o ensino de biologia celular, tema bastante desafiador a muitos professores de biologia.

Ensinar estruturas celulares e seus mecanismos, tais como hematose, transporte de proteínas, sinapses, envolve a visualização de modelos tridimensionais não vistos a olho nu, que quando ilustrados apenas em livros didáticos ou em meios não interativos, tendem a tornar o processo de aprendizado mais abstrato e distante do entendimento dos alunos. 

O kit RA nas escolas tem como objetivo permitir que alunos interajam com modelos 3D com o uso de Realidade Aumentada. O kit é formado por cartas (25 cards com Mecanismos celulares e 19 cards de estrutura celular) que possibilitam interação 3D, além de 2 banners para fixação em sala de aula e alguns cartões postais adicionais interativos.

Você também pode ver o unboxing do kit em nosso canal do youtube:

Primeiras impressões de uso

Ao testarmos o kit percebemos que sua utilização é bastante simples e prática. Inicialmente, o usuário baixa o aplicativo ZAPPAR em um celular ou tablet, em seguida, aponta a câmera do dispositivo para o card escolhido e aguarda alguns instantes até que o modelo 3D apareça. O aplicativo funciona somente conectado à internet. A seguir alguns exemplos de modelos 3D: 

Vale mencionar que todos os cards possuem informações, tanto na frente quanto no verso. Na frente observamos o “Target” com a ilustração das estruturas e mecanismos celulares, que ativa o modelo 3D. No verso são apresentadas as explicações científicas. Dessa forma, cada card carrega informações em RA (modelo 3D) como também informações adicionais.

Os desenvolvedores do kit pensaram também em uma maneira de tornar a experiência ainda mais interativa, adotando uma opção de quiz em cada card. Assim que escaneamos um card, no canto inferior esquerdo da tela do aplicativo aparece um ícone que ativa a função, permitindo a participação do aluno com perguntas referentes aquela estrutura ou mecanismo celular.

A seguir, pontuamos também algumas percepções que tivemos sobre o uso do material.

A escolha do tema

Quando pensamos no uso de tecnologias imersivas em ambientes de aprendizagem, consideramos pertinente avaliarmos primeiramente se o tipo de tecnologia escolhida possui real impacto na experiência de aprendizagem dos alunos. Utilizar recursos de Realidade Aumentada, Realidade Virtual ou até Realidade Mista, desvinculado de um contexto ou propósito pedagógico, pode indicar baixa maturidade de aplicação da ferramenta no ambiente educacional. Diante disso, notamos que os desenvolvedores do “Kit RA nas escolas”, tiveram o cuidado de contextualizar e vincular o uso da Realidade Aumentada a um tema no ensino de ciências que demanda real aplicação para visualização e interação dos alunos com modelos tridimensionais. 

Mediação do professor em sala de aula

O kit apresenta uma excelente solução complementar para que os alunos visualizem, interajam e compreendam o funcionamento de estruturas celulares! Ter em mãos a oportunidade de interagir com modelos 3D, enriquece a experiência do aluno. Porém, compreendemos que o uso do kit, do ponto de vista do processo de ensino, deve ser guiado e estruturado dentro de um plano pedagógico feito pelo professor, de acordo com seu contexto. O simples uso do kit sem mediação de um professor pode favorecer a um desvio de objetivo do produto educacional. O aluno pode utilizar o kit apenas para experimentar a sensação de interagir com modelos em Realidade Aumentada! E não com o objetivo de estudar biologia celular.

Além disso, os próprios desenvolvedores deixam nas recomendações do material que seja incentivado além do uso do kit, outras dinâmicas para aprendizado do conteúdo. Os quizzes e as explicações científicas do material podem ser uma boa ferramenta complementar para os alunos revisarem os conteúdos apresentados em sala de aula.

Indicação de faixa etária:

Apesar dos desenvolvedores recomendarem a classificação de faixa etária como: 

+3 anos – interação com o modelo de RA 

+6 anos – interagir e responder os quizzes

Ao analisarmos o material, percebemos que talvez não seja tão proveitoso o uso do kit por crianças. O material apresenta modelos que podem até chamar atenção, por suas cores e interação, porém, o conteúdo e linguagem utilizados nas explicações dos modelos e nos quizzes não são triviais ao entendimento de uma criança. Em nossa percepção, quando um aluno está em fase de alfabetização, por mais que possa ler as informações do material e interagir com o modelo, não terá repertório suficiente para compreender sobre o assunto. 

Mesmo com um professor ou adulto guiando a experiência das crianças no uso do material para fins de divulgação científica, avaliamos que seja mais adequado sua utilização por alunos que estejam nos anos finais do Ensino Fundamental e estudantes de Ensino Médio. Para estudantes mais novos, talvez seja interessante uma versão adaptada do kit.

Linguagem

Ao testarmos o kit, verificamos que os quizzes e as explicações científicas do material possuem uma linguagem formal, semelhante ao que vemos em livros didáticos tradicionais. Observamos também que o material não possui aspecto gamificado. O aluno não possui um direcionamento ou objetivo a alcançar. O uso do material é direcionamento e vinculado ao propósito pedagógico de cada professor. A seguir, um exemplo de pergunta utilizada no quiz sobre mecanismo de contração muscular:

Algumas considerações técnicas – Experiência do Usuário 

Em nossa avaliação técnica levamos em consideração alguns pontos da própria tecnologia que poderiam agregar a uma maior imersão e interação dos usuários, permitindo uma experiência mais rica, podemos citar:

Ancoragem –Ao movimentarmos o card em frente a câmera do dispositivo, após a leitura do target (aproximar, afastar, rotacionar ou inclinar), não existe nenhuma interação com o modelo 3D, ou seja, o modelo gerado não é ancorado ao target. Talvez a escolha de não ancorar o modelo 3D no card seja uma opção dos desenvolvedores para que fosse possível o usuário ler as explicações no verso sem interferir com a posição do modelo.

Mapeamento – O aplicativo não realiza uma leitura do ambiente para travar e posicionar o objeto em planos ou superfícies. O que vemos é o ambiente real ao fundo e o modelo 3D gerado no centro da tela, não tendo nenhuma alteração quanto ao ambiente real.

Informações RA – Poderia ser considerado que as informações do verso do card fizessem parte do ambiente de RA. As informações poderiam ser projeções mapeadas no ambiente real, visualizadas com a movimentação do dispositivo móvel no ambiente. Isso só seria possível se houvesse a ancoragem do modelo no ambiente ou no cartão. 

Modelos 3D – Os modelos 3D apresentam bom detalhamento, são complexos e elaborados e possuem fácil manipulação, permitindo comandos para rotacionar, zoom in e zoom out.

Os modelos permitem uma visão macro das estruturas e dos mecanismos celulares, como também de detalhamentos em regiões específicas. Esse sem dúvida é o ponto mais forte do kit, no que diz respeito às interações do usuário, pois abre um espaço para visões de cortes, tornando a interação bastante interessante. Outro ponto de destaque são as cores utilizadas nos modelos, cores vivas e contrastantes, facilitam a compreensão dos alunos e são bem didáticas.